Khordadgan: dia de honrar as águas

27/05/2023

Khordadgan

No 6º dia do mês de Khordad no calendário persa (que equivale a 26 ou 27 de maio) os iranianos celebram Khordâdgân, um festival de origem zoroastriana que lembra a importância de honrar o elemento água para a manutenção da vida.

Khordâd tem origem na palavra Hauvrtat que significa “saúde e bem-estar” no antigo persa, é o nome do terceiro mês do calendário persa e também o nome de um dos AmeshaSpenta, ou anjos da tradição zoroastriana.  Khordad é representada como uma divindade feminina que protege as águas dos rios e dos mares.

O lírio branco, especialmente o que cresce no norte do Irã, é a flor símbolo da celebração de Khordadgan, que acredita-se ter o “cheiro da amizade”. Tradicionalmente os iranianos celebram o festival de Khordadgan, perto de fontes de água, rios ou lagos.



3 Livros de brasileiros que conheceram o Irã

23/05/2023

Salam amigos! Para quem busca informações sobre o Irã, as livrarias brasileiras infelizmente ainda oferecem muito poucas opções. Além disso, como destino de viagem, o Irã ainda soa como um enigma para a maioria dos brasileiros. Mas quem são os brasileiros que já viajaram ou moraram no Irã, e que impressões eles trouxeram de lá? 

Neste post, compartilho os 3 livros mais recentes de 2010 a 2021, nos quais os autores, escritores e jornalistas brasileiros, que conheceram profundamente o Irã trazem análises e relatos de suas vivências neste país, para além do que é mostrado na mídia. 


📗 Trágica e Bela: Uma Viagem pelas 1001 Faces da Pérsia e do Irã

Por Lúcia Araújo, Ed. Alta Cult; 1ª edição (10 agosto 2021) 

A atual República Islâmica do Irã ― antiga Pérsia ― representa um grande mistério para o mundo ocidental. Muitas vezes intriga, outras apavora, sempre surpreende. Protagonista estratégica da geopolítica do Oriente Médio, a nação iraniana é uma das civilizações contínuas mais antigas do mundo e um dos berços de algumas das maiores realizações da humanidade. Entre contribuições admiráveis em todos os campos ― da medicina de Avicena à poesia de Khayyam, Hafez e Rumi; da espetacular arte dos tapetes à música, da primeira declaração dos direitos humanos à vencedora do prêmio Nobel da Paz; das miniaturas à refinada cinematografia; dos fundamentos de Zaratustra aos pilares do xiismo ― esse é um país de 1001 faces. É na textura do universo de que é feita a cultura persa que a jornalista Lúcia Araújo mergulha, a partir de suas próprias vivências e viagens, para revelar um país tão fascinante quanto desconhecido. Como ela própria assevera: “O aporte científico e cultural da Pérsia para a humanidade é tão extraordinário quanto desconhecido. A contribuição para a beleza do mundo é infinita. É disso que trata este livro.”
___________________________________________________________


📗 Os Iranianos

Por Samy Adghirni Ed. Contexto; 1ª edição (1 julho 2014)

“Muitos iranianos acreditam que sua civilização entrou em decadência a partir da invasão islâmica do século VII, que impôs a cultura árabe em detrimento da cultura persa”. Revelações como essa mostram facetas surpreendentes de uma nação muito contestada e pouco conhecida no Ocidente. Na antiga Pérsia convivem tradição e modernidade, burocracia e mudanças aceleradas, mulheres com túnicas negras e calças jeans (como se vê na capa deste livro). Trata-se de uma nação que no século XX conheceu forte influência ocidental – nos tempos do xá Reza Pahlavi – e uma revolução islâmica, liderada pelos aiatolás.Os iranianos mantêm os mercados de rua tradicionais, onde se vendem os famosos tapetes persas, mas não deixam de construir shoppings luxuosos à moda ocidental; é a nação daqueles que pregam o ódio ao Ocidente, mas que assistem também a uma invasão cultural vinda deste lado do mundo. Neste livro surpreendente, o jornalista Samy Adghirni, correspondente em Teerã, percorre todos esses contrastes e muitos outros – da política à geografia, da gastronomia ao esporte, da cultura à economia – para revelar ao leitor brasileiro quem realmente são os iranianos.

 ___________________________________________________________


📗 O Irã Sob o Chador

Por Adriana Carranca e Marcia Camargos Ed. Globo; 1ª edição (10 março 2010)

Chador é um tipo de manto iraniano, usado para cobrir o corpo feminino da cabeça aos pés. Só o rosto fica à mostra. O traje é obrigatório em mesquitas e outros lugares sagrados, e conta com a preferência das iranianas islâmicas do segmento mais conservador da sociedade. Assim como as formas de suas mulheres, o Irã apresenta-se ao olhar ocidental de maneira enigmática, oculto sob o espesso chador do nosso preconceito e desinformação acerca do Oriente Médio em geral e de cada país da região, em específico.
Em viagens realizadas em momentos e circunstâncias diferentes, as jornalistas Adriana Carranca e Marcia Camargos tiveram a oportunidade de conhecer um país que não cabe na simplificação dos estereótipos. Muito longe de encontrar fanáticos religiosos hostis e minas terrestres a cada esquina, as autoras se depararam com cidades extremamente seguras para turistas, nas quais imperam a honestidade, a cordialidade e a gentileza nas relações. Em contrapartida, paira no ar a crescente insatisfação com o regime teocrático há três décadas no poder.
Concebido e escrito em parceria, O Irã sob o chador é o resultado da descoberta comum de uma realidade singular, num dos raros lugares do mundo ainda resistentes aos efeitos da globalização. Um cenário de conflitos permanentes entre arcaico e moderno, religioso e secular, opressivo e libertário – e que tem tais contradições capturadas no Caderno de Fotos, que ilustra o livro.
Desnudando as camadas do chador que envolve o Irã, Adriana e Marcia revelam uma sociedade pulsante que, à revelia do poder constituído, impulsiona o país. Um lugar que produz uma das mais instigantes cinematografias do mundo, mas que não hesita em usar a censura prévia (ou mesmo a prisão) para intimidar seus cineastas. Uma sociedade de machismo opressivo, no seio da qual emergiu a ativista Shirin Ebadi, Prêmio Nobel da Paz em 2003. Um caldeirão fervilhante, no qual nacionalismo, juventude e desejo de mudança se mesclam ao deslumbramento com o mundo que está do lado de fora do chador, e que ficou mais próximo com a internet.


📗 Clique nos links  para comprar pela Amazon (o blog Chá-de-Lima da Pérsia recebe uma porcentagem das vendas pelos links neste post).

Se você conhece mais algum livro sobre o Irã ou se já tem algum desses livros escreva sua avaliação nos comentários! 

Participe do clube de apoiadores do Aprendendo Persa

20/05/2023


Você gostaria de ter acesso a materiais exclusivos de língua persa em português?


Venha fazer parte do clube de apoiadores do projeto Aprendendo Persa na plataforma APOIA.se!


Com seu apoio, você ajuda a tornar o ensino da língua persa mais acessível para o público brasileiro.


Por que apoiar o Aprendendo Persa?


Atualmente, não existe nenhum livro produzido no Brasil que ensine a língua persa. Os poucos livros que foram produzidos em português por linguistas europeus, tampouco, possuem uma didática estimulante para quem quer e precisa começar a aprender do zero. 


Apoiando nosso canal, você me ajudará a produzir cada vez mais aulas e conteúdos de qualidade para suprir a falta de materiais acessíveis de ensino da língua persa em português e terá acesso a apostilas, folhas de exercícios, avaliações e dicas de aprendizado exclusivas para te motivar a continuar aprendendo sempre! 


Quais são as formas de apoio e o que você vai receber?


Escolha a forma de apoio que mais combina com você e tenha acesso a materiais e brindes exclusivos:
 


SAIBA MAIS E FAÇA PARTE! 


🔗Acesse a página da nossa campanha: apoia.se/aprendendopersa


Conto com o seu apoio e desejo de coração que assim como eu, você também descubra um novo mundo de conhecimentos, através do aprendizado da língua persa!

Quem foi o poeta Omar Khayyam

18/05/2023


Hoje 18 de maio (28 de Ordibehesht no calendário persa)  é o dia que os iranianos celebram o aniversário de Omar Khayyam que é com certeza um dos mais famosos poetas persas, conhecido no ocidente por sua obra Rubayat, em português "Quadras"(Rubaiyat é o plural da palavra persa rubai, que significa quadras, quartetos), uma coleção de mil poemas que ficou famosa a partir da tradução de Edward Fitzgerald em 1859.

Vida: das ciências à poesia


Omar Khayyam  nasceu em Nishapur, atual província de Razavi Khorasan no Irã, no ano de  1048 e viveu até 1131. Foi um notável matemático, astrônomo e poeta, oriundo de uma família de classe média alta, da qual herdou seu sobrenome que significa"fabricante de tendas".

No campo da astronomia, Khayyam corrigiu o antigo calendário persa que tinha uma margem de erro de um dia a cada 3770 anos. Na matemática contribuiu em álgebra com o método para resolver equações cúbicas pela interseção de uma parábola com um círculo, que viria a ser retomada séculos depois por René Descartes.

Apesar de suas realizações no campo das ciências, foi com sua obra poética que ele recebeu maior reconhecimento. Suas crenças particulares são notáveis em seus escritos, rejeitando a religião formalista e interpretações literais dos dogmas do islamismo. Como filósofo, ele era partidário dos ensinamentos de  Avicena, os quais ele transmitiu durante anos até sua morte em sua cidade natal Nishapur.  


Noite, silêncio, folhas imóveis;
imóvel o meu pensamento.
Onde estás, tu que me ofereceste a taça?
Hoje caiu a primeira pétala. 
Eu sei, uma rosa não murcha
perto de quem tu agora sacias a sede;
mas sentes a falta do prazer que eu soube te dar,
e que te fez desfalecer. 
Acorda... e olha como o sol em seu regresso
vai apagando as estrelas do campo da noite;
do mesmo modo ele vai desvanecer
as grandes luzes da soberba torre do Sultão. 

 

(...) 

 

"Busca a felicidade agora, não sabes de amanhã./ Apanha um grande copo cheio de vinho,/ senta-te ao luar, e pensa:/ Talvez amanhã a lua me procure em vão."

 

A tradução mais conhecida da obra de Omar Khayyam em português foi feita por Otávio Tarquínio de Sousa, embora vários outros poetas e escritores tenham se sensibilizado com a beleza do Rubayat, como Fernando Pessoa e Manuel Bandeira. No prefácio da tradução do Rubayat em português por Alfredo Braga, há uma definição perfeita para compreendermos a personalidade deste poeta persa de múltiplos talentos:
"Um homem erudito e sofisticado, que sabe da assombrosa trajetória dos astros, da pureza da rigorosa geometria e da elegante álgebra, que percebe a inconsequente soberba dos homens sábios (e a dos outros) e caminha entre rosas, tulipas, lindas mulheres e finos vinhos, provavelmente não ia se entregar a tão imponente singeleza para falar do último gesto, daquele “ato inelutável” de um outro crepúsculo:

Cavaleiro que vejo ao longe na neblina
Do crepúsculo, aonde irá? Sei não. Por Vales
E montanhas? Sei não. Estará amanhã estendido...
Sobre a terra?... Ou debaixo da terra?... Sei não."

 

Túmulo do poeta Omar Khayyam em Nishapur | Foto: Masoud Kameli (CC BY-SA 4.0)
Nishapur suportou guerras e terremotos, e em 1221 foi saqueada pelos mongóis. O túmulo de Omar Khayyam resistiu a todas as calamidades. O moderno monumento de mármore que o abriga atualmente foi reconstruído em 1963.

"Se uma rosa guardaste, 
no teu coração,
Se a um Deus supremo e justo endereçastes
Tua humilde oração, 
se com a taça erguida
Cantaste um dia 
o teu louvor à vida:
Tu não viveste em vão!"

(Omar Khayyam) 

🔎 Saiba mais: Deixo aqui sugestões de traduções do Rubayat de Omar Khayyam 

   📘 Os Rubayat - Omar Khayyam 
Tradução em português de Alfredo Braga, leia online grátis  neste link 

   📘 Rubayát - Omar Khayyam 
  Tradução em português J.B. de Mello e Souza   (compre pela Amazon)

   📘 The Rubayats of Omar Khayyam 
  Tradução em inglês de Edward Fitzgerald  (compre pela Amazon)

🎞Veja uma bela animação sobre o grande poeta persa Omar Khayyam: 
   

Quem foi o poeta Ferdowsi

15/05/2023


Hoje, 15 de maio (25 de Ordibehesht, no calendário persa), é o dia que os iranianos celebram o Dia Nacional do poeta Ferdowsi, que é  considerado também o Dia da Língua Persa

Uma vida dedicada a uma obra prima 


Hakim Abol Qasem Ferdowsi Tousi, nasceu em Khorasan em um vilarejo perto de Tus (Nordeste do Irã), no ano de 935. Seu grande épico, o Shahnameh,"O Livro dos Reis", ao qual ele dedicou a maior parte de sua vida, foi originalmente composto sob patrocínio dos príncipes samânidas de Khorasan, que eram os principais instigadores da revitalização das tradições culturais persas após a conquista árabe do século VII. Durante a vida de Ferdowsi esta dinastia foi derrubada pelos turcos Ghaznévidas, e há várias histórias em textos medievais que descrevem a falta de interesse demonstrada pelo novo governante de  Mahmoud de Ghaznavi, pelo trabalho do poeta Ferdowsi.

Diz-se que Ferdowsi morreu por volta do ano 1020 na pobreza e amargurado pela negligência real, embora confiante em sua fama e em seu último poema. O Shahnameh, além de ser um épico nacional é um dos grandes clássicos da literatura mundial que conta a saga dos heróis da antiga Pérsia. A forma e estilo com que o poeta descreve os eventos leva os leitores de volta aos tempos antigos e faz com que estes sintam-se vivenciando os eventos. Ferdowsi trabalhou durante trinta anos para terminar esta obra-prima e é considerado como o maior poeta persa que já viveu.

Estátua de Ferdowsi em Teerã
De acordo com o poeta Nezami (1141-1209), Ferdowsi era um dehqan (classe de fazendeiros aristocratas extremamente patriotas), de onde obtinha uma renda confortável a partir de suas propriedades. Ele tinha apenas uma filha, e foi para fornecer a ela um dote que ele se lançou à tarefa que o ocupou por mais de 30 anos (outras fontes contam que ele também teve um filho que morreu aos 37 anos a quem ele dedicou uma elegia que foi incluída no Shahnameh). 

O poema que reviveu a língua persa


O Shahnameh de Ferdowsi, um poema com cerca de 60.000 versos (o maior já escrito por um único poeta), é baseado principalmente em uma obra em prosa de mesmo nome e foi compilada no início da vida adulta do poeta em Tus, sua terra natal. Este Shahnameh em prosa era em grande parte a tradução de uma obra Pahlavi (Médio persa), o Khvatay-Namak, uma história dos reis da Pérsia desde os tempos míticos até o reinado de Khosrow II (590-628 EC), mas também continha material adicional continuando a história até a derrubada do sassânidas pelos árabes em meados do século VII.

O primeiro a realizar a versificação desta crônica da Pérsia pré-islâmica e lendária foi Daqiqi, um poeta da corte dos samânidas, que teve um fim trágico após completar apenas 1.000 versos. Estes versos, que tratam da ascensão do profeta Zoroastro, foram mais tarde incorporados por Ferdowsi, com confirmações devidas, em seu próprio poema. Uma característica importante deste trabalho é que, durante o período em que o árabe foi conhecido como a principal língua da ciência e da  literatura, Ferdowsi utilizou-se apenas do persa em sua obra-prima. Como diz o próprio Ferdowsi "a língua persa é revivida por este trabalho". 


Ferdowsi e os poetas da corte Ghaznévida


Histórias que se contam sobre Ferdowsi 


Segundo a lenda, o sultão Mahmoud de Ghazni ofereceu a Ferdowsi uma peça de ouro para cada verso do Shahnameh. O poeta concordou em receber o dinheiro de uma só vez quando terminasse o trabalho pois, ele planejava usá-lo para reconstruir os diques de Tus, sua cidade. Depois de trinta anos de trabalho, Ferdowsi terminou a sua obra-prima, o Shahnameh,  em 1010, e foi apresentá-la a Mahmoud, que nessa época havia se tornado governador de Khorasan. 

De acordo com Nezami, Ferdowsi veio a Ghazni pessoalmente e através dos serviços do ministro Ahmad Ebn Hasan Meymandi foi capaz de garantir a aceitação do poema perante o sultão. Porém, infelizmente, Mahmoud  consultou certos inimigos do ministro que sugeriram como  recompensa para o poeta a desprezível quantia de  50.000 dirhams, e mesmo assim, ainda disseram que era demais, em vista de suas doutrinas xiitas consideradas heréticas na época. Mahmoud, um sunita fanático, foi influenciado por essas palavras, e no final Ferdowsi recebeu apenas 20.000 dirhams. Amargamente desapontado, ele foi para o banho público e, ao sair, foi tomar um gole de foqa (um tipo de cerveja) e acabou dividindo todo o dinheiro entre o atendente da casa de banhos e do vendedor do foqa

Temendo a ira do sultão, ele fugiu, primeiro para Herat, onde se escondeu por seis meses, e depois, pelo caminho de Tus, para Mazandaran, onde encontrou refúgio na corte de Shahreyar Sepahbad, cuja família reivindicava ser dos últimos descendentes dos sassânidas (a última dinastia pré-islâmica do Irã). Ali, Ferdowsi compôs uma sátira de 100 versos sobre o sultão Mahmoud que  inseriu no prefácio do Shahnameh e o leu  para Shahreyar, ao mesmo tempo, oferecendo-se para dedicar o poema a ele, como um descendente dos antigos reis da Pérsia, em vez de Mahmoud. Shahreyar, no entanto, convenceu-o a retirar a sátira a Mahmoud, e comprou-a pelo valor de 1.000 dirhams por verso. O texto integral desta sátira, tendo todos os sinais de autenticidade, sobreviveu até o presente. 

De acordo com a narrativa de Nezami, Ferdowsi morreu intempestivamente, assim como o sultão Mahmoud havia resolvido pedir desculpas ao poeta, enviando-lhe 60.000 dinares, mas quando a caravana levando o dinheiro chegou em Tus, reuniu-se um cortejo fúnebre: o poeta havia morrido. Nezami não menciona a data da morte de Ferdowsi. A primeira data determinada pelas autoridades é 1020 e a mais recente é 1026,  só se sabe ao certo que ele viveu  mais de 80 anos. 

Ferdowsi foi enterrado em seu próprio jardim, no cemitério muçulmano de Tus onde um governador Ghaznávida de Khorasan construiu um mausoléu sobre o túmulo que se tornou um local reverenciado. O túmulo, que havia entrado em decadência após séculos, foi reconstruído entre 1928 e 1934 sob as ordens do Xá Reza e agora se tornou o equivalente a um santuário nacional. 


Túmulo de Ferdowsi na cidade de Tus 

O Legado de Ferdowsi


Os persas consideram Ferdowsi como o maior dos seus poetas. Durante quase mil anos os persas continuaram a ler e ouvir recitações de sua obra-prima. É a história do passado glorioso do Irã, preservada no verso sonoro e majestoso. Apesar de escrito a cerca de 1.000 anos atrás, este trabalho é tão inteligível para os modernos falantes do persa quanto a versão do Rei James da Bíblia  para um moderno falante do inglês. A linguagem original é o Pahlavi, um  persa puro com  uma mistura mínima do árabe. 
- Encyclopædia Britannica
Depois do Shahnameh de Ferdowsi  uma série de outras obras semelhantes  surgiram ao longo dos séculos dentro da esfera cultural da língua persa. Sem exceção, todas essas obras foram baseadas no estilo e no método do épico, mas nenhum deles conseguiu alcançar o mesmo grau de fama e popularidade como a obra-prima de Ferdowsi.

Ferdowsi tem um lugar único na história persa por causa dos avanços que ele fez em revitalizar e regenerar as tradições linguísticas e culturais persas. Seus trabalhos são responsáveis por manter grande parte da língua persa preservada. A este respeito, Ferdowsi supera todos os outro poetas que viveram depois dele. Muitos iranianos modernos o consideram como o pai da língua persa moderna. Além do Irã, ele é reverenciado também no Afeganistão e no Tadjiquistão.

Ferdowsi  inspirou o Xá Reza Pahlavi na criação da "Academia de Cultura" no Irã, para tentar remover palavras em árabe e turco da língua persa, substituindo-as por alternativas adequadas em persa. Em 1934, o Xá  instituiu uma cerimônia em Mashhad,  na província de Khorasan para comemorar mil anos de literatura persa desde a época de Ferdowsi, intitulada Ferdowsi Millenary Celebration convidando notáveis ​​estudiosos europeus e iranianos. Em Mashhad, há uma universidade criada em 1949 que também leva o nome de Ferdowsi.


🔗 Fontes:  Iranchamber e Wikipedia

🔎 Saiba mais: Infelizmente ainda não existe nenhuma tradução do Shahnameh de Ferdowsi para o português. Deixo aqui sugestões de duas famosas traduções em inglês: 

   📘 Shahnameh: The Persian Book Of Kings
    Uma das edições mais completas, traduzida por Dick Davis (2016)
    (Compre pela Amazon)

  📘 Shahnameh: The Epic of the Persian Kings
    Edição super luxuosa traduzida por Ahmad Sadri e ilustrado por Hamid Rahmanian  (2013)
    (Compre pela Amazon)

EVENTO ONLINE: Jornada do Persa para Iniciantes

10/05/2023

Evento Online

📢 Participe do evento online JORNADA DO PERSA PARA INICIANTES


Você gostaria de se comunicar em persa com seus amigos?

Atendendo a pedidos, à partir deste sábado 13/05 vamos começar uma série de aulas de persa gratuitas para iniciantes quinzenalmente no canal Aprendendo Persa no YouTube!


Vamos aprender:


● Frases básicas do cotidiano

● Como falar de você mesmo(a)

● Perguntar e responder

● Diferença entre os modos formal e informal


E muito mais!


👩🏿‍💻 Evento online e totalmente gratuito:


A primeira aula será no sábado, 13/05 à partir das 17h (horário de Brasília).

As aulas ficarão gravadas no Canal Aprendendo Persa no YouTube.


📥 INSCREVA-SE para receber o material e o link da aula em seu e-mail.


3 Obras da Literatura Persa Publicadas no Brasil

03/05/2023

Livros de literatura persa publicados no Brasil

Salam amigos! A literatura persa, embora pouco divulgada no Brasil, há um bom tempo tem conquistado muita gente em nosso país. 

Felizmente, encontramos várias traduções dos poemas de Rumi em português, que divulgamos com muito prazer aqui no blog. Mas, para aqueles que desejam ir além nessa busca literária, encontrar títulos de outros poetas persas nas livrarias brasileiras tem sido um grande desafio. 

Afim de incentivar a divulgação da literatura persa no Brasil, no post de hoje, indico alguns dos títulos de poetas como Saadi de Shiraz, Omar Khayyam e Fariduddin Attar, que foram traduzidos para o nosso idioma e podem ser encontrados no site da Amazon. 

RUBAIYÁT

Omar Khayyam
(Editora Top Books)


Nascido em 1040 em Nichapur, na Pérsia, mesma cidade em que morreu em 1120, o poeta Omar Ibn Ibrahim El Khayyam foi, também, astrônomo e matemático. Rubaiyát, plural da palavra rubai, significa quadras, ou quartetos, nos quais o primeiro, o segundo e o quarto versos são rimados e o terceiro é branco. Muita gente, no Brasil e no mundo, traduziu esses versos de Khayyam, mas a Edição que agora a Topbooks põe nas livrarias é resultado de um longo, dedicado e minucioso trabalho do tradutor João Baptista de Mello e Souza (1888-1969), que finalizou sua árdua tarefa em 1959 mas não pôde vê-la publicada.

GULISTAN: O JARDIM DAS ROSAS 

Saadi de Shiraz
(Editora Attar)


"O Gulistan", ou O Jardim das Rosas, de Saadi, é uma coletânea em verso e prosa, impregnada dos elementos mais profundos da filosofia sufi. Compreender Saadi é compreender o sufismo - embora esta afirmação seja exageradamente simplificada, dado que, apesar de "O Gulistan" ser lido em todo lugar em que se fala persa, milhares de leitores não chegam a apreender o sentido profundo da obra, a menos que seu estágio particular de desenvolvimento o permita. Cada leitura do texto aumenta nossa compreensão dos preceitos fundamentais do Amor Sufi, que desempenhou papel fundamental na civilização oriental. Esta tradução baseia-se numa versão manuscrita do Gulistan,  de Tabriz datada de 1380 d.C., por Mirza Muhammed Qasim Sarmouni, pertencente à coleção privada de Sua Eminência o Sheikh ul Mashaikh.

A LINGUAGEM DOS PÁSSAROS

Farid ud-Din Attar
(Editora Attar)


Basicamente o sufismo é uma tradição oral. A transmissão de seus ensinamentos se dá através de lendas, histórias, parábolas. A Linguagem dos Pássaros, grande poema místico escrito na Pérsia do século XII por Farid ud-Din Attar, é uma dessas narrativas alegóricas que contém a essência do pensamento sufi. E das maiores e mais importantes. Verdadeiro clássico da literatura mundial com ressonância na obra de escritores ocidentais do peso de Chaucer, Milton, Dante, Borges.

Quem foi o poeta Saadi de Shiraz?

21/04/2023



Salam amigos! Hoje, 21 de Abril (1° de Ordibehesht no calendário persa), é o dia que os iranianos dedicam a um de seus maiores poetas. Vamos conhecer um pouco da vida e obra do poeta Saadi também conhecido como Saadi de Shiraz.

Vida:  um poeta que viajou em busca da sabedoria 


Saadi Shirazi (cujo nome de nascimento era Abu Muhammad Muslihuddin bin Abdullah) nasceu em 1213 na cidade de Shiraz. É considerado um dos principais poetas persas do período medieval, reconhecido não só pela qualidade de sua obra, mas também pela profundidade de sua sensibilidade social.

Muito jovem, Saadi saiu de sua cidade natal para estudar literatura árabe e ciências islâmicas em Bagdá. O período conturbado que se seguiu após a invasão mongol o levou a viajar pela Anatólia, Síria, Egito e Iraque. Suas obras também indicam que ele viajou pela Índia e Ásia Central. 

Saadi conviveu com as pessoas comuns, sobreviventes do massacre promovido pelos mongóis e se reunia até altas horas da noite trocando conhecimentos com mercadores, granjeiros, religiosos, andarilhos, ladrões e sufis mendicantes. Durante vinte anos ou mais, prosseguiu com sua rotina  de sermões, advertências, lições que se tornaram pérolas de sabedoria.

Saadi é recebido pelo jovem de Kashgar na conferência em Bukhara, iluminara do manuscrito Gulistan, séc. XVI | Wikimedia Commons


Quando regressou a  Shiraz já em sua maturidade, a cidade sob o governo de Atabak Abubakr Sa'd ibn Zangy (1231-1260) desfrutava de um período de relativa tranquilidade. Saadi não só foi bem recebido como ganhou o respeito do governador e foi designado entre os grandes da província. A partir daí adotou seu nome literário em homenagem ao governador Sa'd ibn Zangi para quem compôs também alguns dos mais belos panegíricos como gesto de gratidão, que foram incluídos no início de sua obra Bustan. Acredita-se que Saadi passou o resto de sua vida em Shiraz, onde faleceu em 1291.


O mausoléu do poeta Saadi em Shiraz | Wikimedia Commons

O túmulo original de Saadi, em Shiraz, conhecido como Saadieh , foi construído no século XIII,  e reconstruído no século XVII. O edifício atual foi construído entre 1950 e 1952 com projeto do arquiteto Mohsen Foroughi e é inspirado no palácio Chehel Sotoun de Isfahan, com uma fusão de elementos arquitetônicos antigos e modernos. Ao redor da tumba nas paredes estão sete versos dos poemas de Saadi.

Obra: o Mestre do Discurso


Saadi é amplamente reconhecido como um dos maiores poetas da tradição literária clássica, ganhando o apelido de Ostâd-e Sokhan, "O Mestre do Discurso" entre os estudiosos persas.

Suas obras mais conhecidas são  Bustan (O Pomar), 1257 e  Gulistan (Jardim das Rosas), 1258. O Bustan escrito inteiramente em versos rimados, consiste em histórias que ilustram as virtudes recomendadas aos muçulmanos assim como reflexões sobre as práticas dos dervixes.

O Gulistan escrito principalmente em prosa, contem historias e anedotas pessoais. O texto está intercalado com uma variedade de poemas curtos que incluem aforismos, advertências e reflexões humorísticas.

"Saadi no jardim das rosas", iluminura do séc. XVII | Wikimedia Commons


Além do Bustan e do Gulistan, Saadi também escreveu quatro livros de poemas de amor (ghazals) e vários poemas mono-rima mais longos (qasidas) em persa e árabe. Há também quadras (rubai) e peças curtas, e algumas obras menores em prosa e poesia.

A mistura peculiar de gentileza e cinismo, humor e seriedade na obra de Saadi, fazem dele um dos poetas mais encantadores da cultura persa. 

Um dia, caí sobre um punhado de argila perfumada,
Vinda do meu Amado.
Inebriado pelo perfume, perguntei:
“Es almíscar ou âmbar gris?”
A argila respondeu:
Não passo de um mero punhado de argila,
Mas associei-me a uma rosa.
A virtude da minha companheira
Exerceu sobre mim sua influência,
Embora eu permaneça
A mesma argila que sempre fui.


Retrato do poeta Saadi (autor desconhecido)

Uma noite chorava eu amargamente minha vida desperdiçada, e decidi, enfim, renunciar aos prazeres absurdos e ao tempo perdido. Ficar sentado a um canto, surdo e mudo, vale mais que ser escravo de uma língua indomável. Veio um amigo e tentou levar-me para os prazeres da cidade, mas recusei. Disse-me ele, então:

Enquanto ainda possuis
O poder da palavra,
Utiliza-o no regozijo e na alegria!
Amanhã quando vier o anjo da morte,
Não terás outra escolha senão o silêncio.

Mais tarde fomos passear nos jardins. Ele colhia flores e eu lhe disse: “não há permanência nas flores; o que não dura não merece devoção. Ele perguntou: “O que devo fazer” Respondi: “Vou compor um livro, O jardim das Rosas, que não perecerá”.

Leva uma rosa do jardim,
Ela durará alguns dias.
Leva uma pétala do meu Jardim das Rosas,
Ela durará a Eternidade.


Conto 1, do Livro IV – Das vantagens do silêncio


Conversando com um amigo, eu lhe disse: “Calo-me deliberadamente, pois parece-me que o bem e  mal vêm sobretudo da palavra e que nossos inimigos se apegam ao mal”. Ele respondeu: “O maior inimigo é aquele que não vê o bem”.

O homem perverso, ao ver o homem piedoso,
Trata-o como insolente mentiroso.
Para aquele que cultiva preconceitos,
O mérito é um grande defeito.
Saadi é uma rosa; mas é um espinho
Aos olhos dos seus inimigos.
O sol que ilumina o mundo
É detestável aos olhos da toupeira.

Conselho 110, do Livro VIII – Da conquista da sociedade


Perguntaram a um sábio: “Deus criou várias espécies diferentes de árvores e as fez carregarem-se de frutos e multiplicaram-se. Entretanto, nenhuma delas é chamada ‘livre’ como o cipreste. Qual a razão?” Ele respondeu: “Toda árvore floresce, dá frutos e seca segundo as exigências das estações, salvo o cipreste, que está sempre verde e fresco: tal é condição daquilo que é livre”.

Não ates teu coração a valores transitórios.
Por muito tempo depois dos califas,
O tigre continuará a correr em Bagdá.
Se podes, sê generoso como a tâmara;
Se não podes, então sê como o cipreste: livre.

(Traduções: Rosangela Tibúrcio, Beatriz Vieira, Sergio Rizek, a partir da versão de Omar Ali-Shah)

A influência mundial do poeta Saadi


Juntamente com Rumi e Hafez, Saadi é considerado um dos três maiores escritores do gênero ghazal da poesia persa. 

Seu livro, Bustan, foi classificado como um dos 100 maiores livros de todos os tempos pelo jornal britânico The Guardian.

Na entrada da sede da ONU em Nova York, há um grande tapete persa e ao lado dele estão inscritos os versos do poema de Saadi conhecido como Bani Adam ("Os Filhos de Adão" ou "Os Seres Humanos"):

"Os filhos de Adão são membros de um só corpo,
Criados de uma só essência.
Quando um destes membros se machuca,
Os outros também sentem sua dor.
Você, que não sente a dor do próximo,
Não é digno de se chamar humano."

(Tradução nossa)

Tapete persa com inscrição do poema de Saadi, na sede da ONU em Nova York | Wikimedia Commons


O poema Bani Adam também foi usado pela banda de rock britânica Coldplay em sua música بنی آدم, com o título escrito em persa. A música é apresentada em seu álbum de 2019, Everyday Life.

🔎Fontes: 
Acessos em: 21/04/2023

Dicas de Leitura: 

📗 Gulistan: O Jardim das Rosas por Saadi de Shiraz (Ed. Attar, 2015) 
Única tradução da obra de Saadi traduzida para o português.

📕 El Bustan por Saadi de Shiraz, tradução de Omar Ali Shah (Ed. Sufi, 2020) 
Tradução da obra de Saadi para o espanhol (formato Kindle).