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Foto: Sidney Dupeyrat |
Por Sidney Dupeyrat de Santana
Esfahan, de tão bela, é conhecida como "a metade do mundo". Mas essa beleza é diferente da que estamos acostumados no Brasil, com nossas paisagens naturais magníficas. Seu encanto arquitetônico, social e natural tem um quê de melancolia.
É anoitecer na Ponte Khaju, um ds lugares mais mágicos da cidade e de todo o Irã. Nela, grupos de homens cantam músicas e poemas tristes. Casais passeiam pela construção antiga que ganha tons de amarelo com a iluminação noturna. Amigos fumam olhando o rio seco. Uma paisagem que já teve água abundante, mas hoje só possui uma vegetação rala. Eu, estrangeiro e turista, observo o cotidiano dos locais; até que um senhor vem puxar papo comigo.
Ele tem bem os seus setenta anos. Instigo o homem a falar, afinal essa é a melhor forma de aproveitar os momentos com os velhos. Os de mais idade, dotados de grande experiência, têm sempre excelentes memórias para serem compartilhadas. São verdadeiros livros ambulantes.
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Foto: Sidney Dupeyrat |
O iraniano começa a falar sobre a sua vida. Dentro de pouco tempo, está contando suas lembranças do tempo de militar durante a guerra Irã-Iraque nos anos 80. Amigos próximos feridos e mortos. A solidariedade entre os combatentes. A saudade da família. A destruição causada em ambos os países durante longos dez anos. O árduo processo de reconstrução de regiões do Irã. Uma guerra sem vencedores e sem motivos plausíveis. Como todas as guerras, matou muitos e enriqueceu poucos. Enquanto pessoas perdiam as mãos no conflito, executivos usavam as suas para colocar mais dinheiro nos bolsos.
Mas os idosos não vivem só do passado, também interagem e buscam decifrar o presente. Quando fala sobre o Irã de hoje, diz que o governo atual não poderia ser mais diferente de sua população. O povo, ele é pacífico. No Irã, no Iraque ou nos Estados Unidos.
E, antes de partir, olha o horizonte escuro e árido. Seus olhos marejados estão mais úmidos que a paisagem logo à sua frente. Ele não diz, mas eu posso ler no seu olhar cansado o desejo claro de um idoso para um futuro que talvez ele não presencie: um mundo com menos bombas e mais água nos rios. Menos morte, mais vida.
Este é o segundo artigo enviado gentilmente por Sidney Dupeyrat de Santana, contando seus relatos de viagem ao Irã em 2013. Saiba mais sobre o autor:
Site: www.sidneydupeyrat.com
Instagram: @sidneydupeyrat
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