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Breve história do Nowruz (Ano Novo Iraniano)
Feliz Nowruz - Ano Novo Persa 1402
Parvin Etesami: uma mulher notável na poesia iraniana
Vida: a menina que escrevia poesia desde os 8 anos...
Parvin Etesami, cujo nome real era Rakhshandeh, nasceu em 1907, na cidade de Tabriz. Seu pai era o proeminente jornalista e escritor, Mirza Yusef Ashtiani Etesami (Etesamolmolk) e ela tinha quatro irmãos.
Em 1912, ela se mudou de Tabriz para Teerã com sua família, onde iniciou os estudos na escola primária. Aprendeu literatura árabe e persa com o pai e desde os seis anos de idade acompanhou reuniões de literatura com a presença de notáveis poetas e escritores da época em sua casa.
Ela compôs seu primeiro poema em estilo clássico, aos oito anos e quando tinha onze anos já conhecia a maioria dos poetas iranianos.
Depois de se formar em 1924, na Iran Bethel, uma escola secundária americana para meninas, Parvin lecionou inglês por dois anos nessa mesma escola. Trabalhou como bibliotecária na Universidade de Teerã e recusou o convite para trabalhar como tutora da rainha na corte de Reza Shah Pahlavi.
Sua primeira coleção de poemas foi publicada em 1935, e ela se tornou a primeira mulher a ter sua obra publicada no Irã. Em 1936, o Ministério da Educação a homenageou com a Medalha de 3º grau de Arte e Cultura mas ela se recusou a aceitá-la, provavelmente por considerá-la um prêmio de pouca valia.
Parvin Etesami se casou em 1934 com Fazlollah Etesami, um primo de seu pai e mudou-se para Kermanshah, porém se divorciou dois meses depois. Com a morte de seu pai em 1938, Parvin se sentiu privada de seu apoio amoroso e praticamente cortou seu contato com o mundo exterior.
Ela morreu em 1940 em Teerã de febre tifóide, com apenas 33 anos de idade foi enterrada perto de seu pai em Qom.
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Estátua de Parvin Etesami em sua casa em Tabriz | Crédito: IRNA |
Obra: inspirada pelos grandes poetas clássicos
Parvin tinha apenas sete ou oito anos quando seu talento poético se revelou. Incentivada por seu pai, ela transformou em versos algumas peças literárias que seu pai havia traduzido de fontes ocidentais. Seus primeiros poemas conhecidos, onze composições impressas em edições de 1921-22 da revista mensal de seu pai, Bahār, exibem uma surpreendente maturidade de pensamento.
A primeira edição de seu divan, compreendendo 156 poemas, foi publicada em 1935 com uma introdução do laureado poeta Moḥammad-Taqi Bahar (1886-1951). A segunda edição, editada por seu irmão Abu'l-Fatḥ Etesami, incluindo a introdução de Bahar, foi publicada logo após sua morte em 1941.
A poesia de Parvin segue padrões tradicionais tanto na forma quanto no conteúdo. Na reclusão protetora de sua vida familiar, ela permaneceu inalterada, ou talvez até mesmo inconsciente, das tendências reformistas em curso na poesia persa. Tímida por natureza e isolada pelas normas tradicionais de conduta da época, Parvin nunca expressou seus sentimentos inibidos de amor e saudade.
Anedotas e poemas de conflito compõem a maior parte da obra de Parvin. Ela costumava usar criaturas animadas e inanimadas para expressar seus sentimentos de insatisfação e protesto social sem levantar suspeitas políticas. Por meio dessas figuras alegóricas, ela mostra um espelho da sociedade. Da mesma forma, nesses poemas ela expressa com eloquência seus pensamentos básicos sobre vida e morte, justiça social, ética, educação e a suprema importância do conhecimento.
Parvin é notavelmente silenciosa sobre as grandes mudanças e eventos que ocorreram na Pérsia durante os vinte anos de sua vida criativa (1921-41), sendo a única exceção o decreto de Reza Shah banindo o uso do véu das mulheres em 1935, que ela comemora com aprovação. No entanto, seu divan é um espelho fiel de sua tristeza interior sobre a situação de seu povo como a falta de justiça social, a pobreza, o sofrimento dos velhos, órfãos e doentes.
O conhecimento de Parvin sobre a poesia persa enriqueceu seus poemas narrativos com numerosos empréstimos de grandes poetas clássicos como Sanai, Saadi, Rumi, Khayyam, Hafez e Naser Khosrow. Ela também se inspirou nas fábulas de Esopo e La Fontaine e, nas traduções de seu pai, por exemplo, de Horace Smith e Arthur Brisbane. No entanto, o maior número de suas anedotas são suas criações originais.
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Retratos de Parvin Etesami | Crédito: Independent Online |
Legado: uma mulher a frente de seu tempo
A lágrima do órfão
De todas as ruas e telhados erguiam-se gritos de alegria;Naquele dia o rei estava passando pela cidadeUm menino órfão em meio a multidão pergunta'O que é aquele brilho no topo de sua coroa?'Alguém respondeu: isso não cabe a nós saber,Mas é uma coisa que não tem preço, isso é claro!Uma velha aproximou-se, com as costas curvadas,Ela disse: 'isso é o sangue do seu coração e a lágrima do meu olho!'Sobre as lágrimas do órfão, mantenha seu olhar fixo.Até ver de onde vem o brilho da joia.
Lugar de MulherUm lar sem mulher carece de amizade e afeto.Quando o coração de alguém está frio, a alma está morta.A Providência não decretou em nenhum livro ou discurso.que a excelência é do homem e o defeito é da mulher.No edifício da criação, a mulher sempre foi o pilar.Quem pode construir uma casa sem alicerce?Se a mulher não tivesse brilhado como o sol sobre a montanha da vida.o joalheiro do amor em vão procuraria pedras preciosas na mina. (...)Platão e Sócrates foram grandes porque suas próprias mãesquem os amamentou também foram grandes.
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Pintura representando Parvin Etesami reverenciando o busto do poeta Saadi | Crédito: Ganjoor.net |
🔎Fontes:
Persian Language & Literature: Parvin Etesami| Iran Chamber Society.
Parvin Etesami | Encyclopædia Iranica
Parvin E'tesami, Unmatched Cultural Treasure of Iran | Women NCRI
Acessos em: 17/03/2023
Forugh Farrokhzad: ícone da poesia e da resistência feminina iraniana
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Forugh com Parviz Shapour e seu filho Kamyar | Crédito: Sinarium |
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Durante as filmagens de "A Casa é Escura" (1962) | Crédito: Wikimedia Commons |
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Forugh Farrokhzad, ícone da resistência feminina | Crédito: Farrokhzadpoems |
Todo o meu ser é um cântico escuro
a perpetuar você
cântico que o levará ao amanhecer de eterno crescer e
desabrochar
Neste cântico eu suspirei você, suspirei.
Neste cântico eu uni você à árvore, à água, ao fogo.
A vida é talvez
uma longa estrada através da qual, uma mulher
carregando um cesto, passa todos os dias
A vida é talvez
uma corda com que um homem se pendura num galho
a vida é talvez uma criança voltando da escola.
A vida é talvez acender um cigarro,
repouso entorpecido entre dois atos de amor,
ou um passante confuso
que tira o chapéu para outro passante
com um sorriso vazio e um “bom dia”.
A vida é talvez o momento sem saída
quando meu olhar se destrói nos raios da íris dos seus olhos
e nisso há um sentimento
que se mescla à percepção da Lua
e da escuridão.
Numa sala, do mesmo tamanho que a solidão, meu coração é tão grande quanto o amor
que olha os simples pretextos da sua felicidade
na bela decadência das flores de um vaso
nos brotos que você plantou no nosso jardim,
na canção dos canários
que cantam na medida da janela.
Ah
esta é a parte que me cabe
esta é a parte que me cabe
parte que me cabe
é um céu que, quando cai
a cortina, é arrancado de mim.
A parte que me cabe desce uma escada sem uso
e alcança certa podridão e nostalgia.
A parte que me cabe é um passeio triste no jardim de memórias
ao deixar a vida na dor de uma voz que me diz:
Eu gosto das suas mãos.
Plantarei minhas mãos no jardim
e vou germinar, eu sei, eu sei, eu sei
e andorinhas botarão ovos
na cavidade manchada de tinta dos meus dedos.
Vestirei um par de cerejas vermelhas e idênticas, como brincos,
e enfeitarei com pétalas de dálias, as minhas unhas.
Há uma rua
onde os meninos que eram apaixonados por mim
demoram-se, ainda, com os mesmos cabelos despenteados,
pescoços finos e pernas magras.
Pensar no sorriso inocente de uma menina
que uma noite foi levada pelo vento.
Há uma rua
que meu coração roubou
dos bairros da minha infância.
Ao longo do tempo, a viagem de uma forma
insemina a linha seca do tempo,
uma forma consciente de uma imagem
voltando de uma festa num espelho.
E é dessa forma
que alguém morre
ou continua a viver.
Nenhum pescador achará uma pérola num miserável riacho
que deságua num açude.
Eu conheço uma triste fada,
que vive num mar imenso
e toca seus sentimentos mais profundos na flauta de madeira,
Pouco a pouco
uma pequenina e triste fada
morre com um beijo a cada noite
e renasce com um beijo a cada amanhecer.
SAUDAREI O SOL NOVAMENTE
Eu saudarei o sol novamente
Saudarei os córregos que fluem de mim
Saudarei as nuvens, meus longos pensamentos
O doloroso crescimento das flores no jardim
Que me acompanham na travessia da seca;
Saudarei os bandos de corvos que me trouxeram
A fragrância dos campos noturnos;
Minha mãe morava no espelho
E era a imagem da minha velhice;
A terra, com minha luxúria cotidiana
Preencheu suas entranhas, apaixonadamente, com sementes verdes.
Saudarei tudo isso novamente.
Eu virei, eu virei,
eu virei com meus cabelos: a continuação dos odores subterrâneos
Com meus olhos: as densas experiências da escuridão
Com as plantas que colho
Da floresta, atrás do muro.
Eu virei, eu virei, eu virei
E a chegada será preenchida de amor
E lá
Saudarei mais uma vez os apaixonados
E a menina que está em pé
Na entrada,
cheia de amor.
Traduções do livres inglês para o português realizadas por Gabriela Galli, a partir do livro Once again, Another Birth. Editor: Tofighafarin, Irã.
10 Mulheres iranianas que vão te inspirar
1- ANOUSHE ANSARI: A primeira astronauta iraniana
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Anoushe Ansari, engenheira e empresária |
Anoushe Ansari é engenheira e empresária, nascida em Mashhad. Em 18 de setembro de 2006, subiu ao espaço na nave russa Soyuz TMA-9, para uma estadia de nove dias a bordo da Estação Espacial Internacional. Primeira mulher na categoria de turistas espaciais a pagar a sua própria passagem para fora da atmosfera terrestre, obteve a fama de ser a primeira turista do sexo feminino no espaço.
Emigrou para os Estados Unidos em 1984 para poder seguir estudos na área da Ciência, limitados às mulheres no Irã pós-revolução islâmica de 1979. Naturalizada norte-americana nos anos 80, formou-se em engenharia elétrica e ciência de computadores na prestigiosa Universidade George Washington, localizada em Washington, DC.
É hoje sócia, co-fundadora e CEO da empresa Telecom Technologies, que fundou com seu marido e seu cunhado nos anos noventa.
Como principal contribuinte financeira da Fundação X-Prize, Anousheh Ansari dá nome ao prêmio Ansari X Prize, oferecido pela fundação a quem fizesse o primeiro voo espacial sub-orbital independente da história.
2- AZAR NAFISI: professora de literatura que enfrentou a censura
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Azar Nafisi, escritora a professora de literatura |
Azar Nafisi é uma escritora nascida em Teerã. Aos 13 anos mudou-se para os Estados Unidos, onde concluiu sua formação acadêmica em literatura inglesa e norte-americana. Retornou para o Irã em 1979, após a Revolução Islâmica, e ensinou literatura inglesa na Universidade de Teerã, onde permaneceu durante 18 anos contra a censura das obras literárias no âmbito da Universidade.
Em 1995, sua postura de discordância com as autoridades custou seu cargo como professora universitária, mas nem isso fez com que ela abandonasse sua paixão pela docência da literatura e convidou sete de suas melhores ex-alunas para prosseguir com os estudos em sua própria residência, em encontros "clandestinos". Elas se reuniram para estudar livros controversos na sociedade iraniana pós-revolução como Lolita, Orgulho e Preconceito buscando contextualizar estas obras na perspectiva do Irã moderno. A sua história é narrada no livro Lendo Lolita em Teerã (veja resenha aqui).
Atualmente ela vive nos Estados Unidos e é acadêmica visitante e conferencista no Instituto de Política Estrangeira na Escola de Estudos Internacionais Avançados (SAIS) da Universidade John Hopkins.
3- FORUGH FARROKHZAD: uma poetisa à frente do seu tempo
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Forugh Farrokhzad, escritora, poetisa e cineasta |
Forugh Farrokhzad foi uma poetisa, escritora e cineasta nascida em Teerã em 1935. Considerada uma das personalidades literárias mais importantes de seu país no século XX e um símbolo do feminismo no Irã.
Farrokhzad, se casou aos 16 anos com o satirista Parviz Shapour de quem se divorciou após dois anos. Na década de 1950, como mulher divorciada, escrevendo uma poesia controversa, acabou atraindo muitas reações negativas por parte da sociedade vigente. Em 1958, após passar 9 meses na Europa, ela retornou ao Irã e manteve um relacionamento com o cineasta Ebrahim Golestan, que a incentivou a expressar a si mesma e a viver como uma mulher independente.
Seu famoso documentário A Casa é Escura, sobre um leprosário em Tabriz, filmado em 1962 é considerado parte essencial da New Wave do cinema iraniano.
Farrokhzad morreu em um acidente de carro em fevereiro de 1967, aos 32 anos. Seus poemas, que utilizavam uma linguagem coloquial e com forte teor feminista foram censurados por mais de uma década após a Revolução Islâmica.
Atualmente ela é lembrada como uma defensora dos direitos femininos, por ter se tornado escritora em uma época onde as mulheres eram duramente reprimidas.
4- MARJANE SATRAPI: a primeira escritora de HQ iraniana
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Marjane Satrapi, escritora, romancista gráfica, ilustradora e cineasta |
Marjane Satrapi é uma romancista gráfica, ilustradora, cineasta e escritora nascida em Rasht em 1969. Ficou conhecida como a primeira iraniana a escrever história em quadrinhos. A adaptação animada de sua série de quadrinhos Persépolis, que ela co-dirigiu junto a Vincent Paronnaud, foi indicada para o Oscar.
Marjane Satrapi cresceu em Teerã em uma família que se envolveu com os movimentos comunista e socialista no Irã antes da Revolução Iraniana. Lá frequentou o Lycée Français e presenciou, durante a infância, a crescente repressão das liberdades civis e as consequências da política iraniana na vida cotidiana dos habitantes do país, incluindo a queda do Xá, o regime inicial de Ruhollah Khomeini, e os primeiros anos da Guerra Irã-Iraque.
Em 1983, então com 14 anos, Satrapi foi mandada para Viena, na Áustria, por seus pais. Ela permaneceu em Viena durante o ensino médio, morando na casa de amigos, em pensionatos e repúblicas estudantis, até finalmente ficar desabrigada e morar nas ruas. Após um ataque quase mortal de pneumonia, em decorrência das graves condições de vida, ela retornou ao Irã. Conheceu um homem chamado Reza, com quem se casou aos 21 anos e divorciou-se cerca de três anos depois.
Em seguida, ela estudou Comunicação Visual, e posteriormente obteve o mestrado em Comunicação Visual pela Faculdade de Belas artes em Teerã, Universidade Islâmica Azad. Atualmente ela vive em Paris, onde trabalha como ilustradora e autora de livros infantis.
5- MARYAM MIRZAKHANI: uma estrela brilhante da matemática
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Maryam Mirzakhani, matemática e cientista |
Maryam Mirzakhani foi uma matemática nascida em 1977 em Teerã. Estudou no Liceu Farzanegan, ligado à Organização Nacional para o Desenvolvimento de Talentos Excepcionais (NODET). Em 1994, em Hong Kong, Mirzhakhani ganhou uma medalha de ouro na Olimpíada Internacional de Matemática, tornando-se a primeira mulher iraniana a receber o prêmio. Na edição da competição de 1995, sagrou-se como a primeira pessoa nascida no Irã a receber uma nota perfeita e a ganhar duas medalhas de ouro.
Em 1999, obteve um bacharelado em matemática na Universidade Tecnológica de Sharif de Teerã. Mudou-se para os Estados Unidos a fim de desenvolver sua pós-graduação, onde obteve um doutorado na Universidade de Harvard em 2004, orientada por Curtis McMullen que recebeu a Medalha Fields em 1998. Foi pesquisadora assistente do Clay Mathematics Institute em 2004 e conferencista da Universidade de Princeton. Aos 31 anos, em setembro de 2008, Mirzakhani tornou-se professora de matemática da Universidade Stanford.
Em 2014, Mirzakhani foi premiada em Seul com a Medalha Fields por "suas excepcionais contribuições à dinâmica e à geometria de superfícies de Riemann e seus espaços de módulos". Ela faleceu em julho de 2017, em Palo Alto nos Estados Unidos, vítima de câncer de mama.
6- SAMIRA MAKHMALBAF: a menina prodígio do cinema iraniano
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Samira Makhmalbaf, cineasta |
Samira Makhamalbaf é uma cineasta, nascida em Teerã em 1980. Aos 8 anos de idade ela atuou no filme O Ciclista, dirigido por seu pai Mohsen Makhmalbaf.
Aos 17 anos, ela dirigiu seu primeiro filme A Maçã e, se tornou a mais jovem diretora do mundo a participar da sessão oficial do Festival de Cannes em 1998, tendo recebido elogios do lendário cineasta Jean-Luc Godard. A Maçã foi convidado para mais de 100 festivais internacionais de cinema em um período de 2 anos.
Em 1999, Samira fez seu segundo filme Quadros Negros, e pela segunda vez foi escolhida para competir na sessão oficial de Cannes em 2000. Este filme também recebeu muitos prêmios internacionais incluindo o Federico Fellini Honor Award da UNESCO e o Francois Truffaut Award da Itália.
Em 2013, pela terceira vez Samira Makhmalbaf foi a Cannes e pela segunda vez recebeu o prêmio do Júri em com seu filme Às Cinco da Tarde, o primeiro filme feito no Afeganistão após a queda do Talibã. Em 2004, ela foi eleita uma das 40 melhores diretoras do mundo pelo jornal The Guardian.
7- SHADI GHADIRIAN: a mais influente fotógrafa iraniana
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Shadi Ghadirian, fotógrafa |
Shadi Ghadirian é uma fotógrafa, nascida em Teerã em 1974. Desde sua graduação pela Universidade Azad em Teerã com um bacharelado em fotografia, Shadi Ghadirian se estabeleceu como um dos maiores talentos criativos do Irã. Ela é mais conhecida por seus retratos evocativos que englobam uma grande variedade de assuntos incluindo a identidade feminina, censura, e questões de gênero.
Inspirando-se em suas próprias experiências de vida, a artista usa humor e paródia como ponto de partida para suas investigações sobre os paradoxos do que é ser mulher no Irã. De acordo com Anahita Ghabaian Etehadieh, diretora da Galeria Silk Road, já nos anos 90 Ghadirian se tornou uma das primeiras fotógrafas iranianas a mudar a percepção do público sobre a arte e sociedade contemporânea do Irã. "Por meio de um estilo único de expressão, ela começou a contradizer as imagens severas e brutais comumente associadas ao Irã, desafiando dilemas sociais do Oriente e como o mundo via o Irã através da linguagem da arte".
8- SHIRIN NESHAT: uma artista engajada e de prestígio
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Shirin Neshat, artista visual |
Shirin Neshat é uma artista visual nascida em Qazvin em 1957. Seus trabalhos, principalmente em vídeo arte e fotografia apontam os contrastes entre o Islã e o Ocidente, masculino e feminino, vida pública e privada, antiguidade e modernidade, buscando criar pontes entre estes temas. Ela deixou o Irã para estudar artes em Los Angeles, na época da Revolução Islâmica. Após concluir sua pós graduçação, mudou-se para Nova York e se casou com o curador coreano Kyong Park.
Shirin Neshat é uma artista de enorme prestígio e tendo recebido o Prêmio Internacional da XLVIII Venice Biennale em 1999 e também o Leão de Prata, como melhor diretora no 66º Venice Film Festival em 2009.
Em 2010, Neshat foi nomeada Artista da Década pelo crítico G. Roger Denson do Huffington Post.
Em 2015, ela foi selecionada pela fotógrafa Annie Leibovitz como parte do 43º Calendário Pirelli que celebrou algumas das mulheres mais inspiradoras do mundo. Atualmente ela vive em Nova York e seus trabalhos se encontram em diversas galerias do mundo.
9- KIMIA ALIZADEH: A primeira mulher medalhista olímpica do Irã

Kimia Alizadeh, atleta de taekwondo
Kimia Alizadeh é uma atleta do taekwondo nascida em Karaj, em 1998. Quando tinha sete anos, Kimia entrou no ginásio de sua cidade, que só oferecia aulas de taekwondo. Demorou, mas ela acabou aprendendo a amar a arte marcial e, em um ano, era campeã nacional. Aos 18 anos, ela se tornou a primeira mulher medalhista Olímpica do Irã (conquistando o bronze na categoria de 57 kg).
Ela foi saudada como uma heroína em casa e recebeu o apelido de "tsunami" devido às suas poderosas façanhas. Mas em Janeiro de 2020, tudo mudou. A atleta nascida em Karaj fugiu de seu país natal, chamando a si mesma de "uma das milhares de mulheres oprimidas no Irã" em uma postagem do Instagram.
Nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, Kimia competiu pelo pela Equipe Olímpica de Refugiados do COI. A atleta que vive atualmente na Alemanha com seu marido, disse que permaneceria "uma filha do Irã" onde quer que estivesse, e que continuaria a lutar pela igualdade, para que todas as mulheres pudessem seguir seus sonhos.
10- ZAHRA NEMATI: a maior medalhista paralímpica do Irã

Zahra Nemati, arqueira paralímpica
Zahra Nemati é uma arqueira paralímpica e olímpica nascida em Kerman em 1985. Faixa preta em taekwondo, tinha o objetivo de chegar a uma Olimpíada competindo na modalidade que amava. Seu sonho foi parcialmente interrompido em 2003, quando sofreu um acidente de carro que causou uma lesão na espinha e a deixou sem movimentos nas pernas.
Três anos após o acidente ela passou a praticar tiro com arco. Com apenas seis meses de treinamento, Zahra ficou em terceiro lugar no campeonato nacional, competindo ao lado de atletas sem deficiência. Em 2012, ela se classificou para os Jogos Paralímpicos de Londres, onde fez história. Ao subir ao lugar mais alto do pódio na categoria arco recurvo, Zahra se tornou a primeira mulher iraniana a conquistar uma medalha de ouro em uma Olimpíada ou Paralímpiada.
As conquista de Zahra não pararam por aí, ela conquistou mais três medalhas nos Jogos Paralímpicos Rio 2016 (ouro e prata) e Tóquio 2020 (ouro).
Torre Azadi: um símbolo da cidade de Teerã e do Irã
Salam amigos! Hoje vamos falar sobre um dos cartões postais da cidade de Teerã que também pode ser considerado um símbolo de todo Irã, a magnífica Borj-e Azadi ou Torre Azadi.
Construída em 1971 por ocasião das comemorações dos 2.500 anos do Império Persa, a torre foi chamada originalmente de Shahyād que significa "memorial dos reis". Passou a chamar-se Azadi ("liberdade") a partir dos protestos que tiveram lugar em 12 de dezembro de 1978 que conduziriam à Revolução de 1979. O monumento foi projetado pelo jovem arquiteto Hossein Amanat, e construído pelo engenheiro Mohammad Pourfathi.
A história do projeto
Em 1967, foi realizado um concurso no qual participaram arquitetos de todo o Irã para desenhar um símbolo que representasse o país. O arquiteto Hossein Amanat de 24 anos, formado pela faculdade de Belas Artes da Universidade de Teerã venceu o concurso e seu projeto foi selecionado para a construção. Em 1972, a então nomeada torre Shahyad foi colocada em operação e foi registrada na lista de monumentos nacionais do Irã em 16 de março de 1972.
O projeto arquitetônico combina elementos de vários períodos da história do Irã. As linhas paralelas e alongadas das fundações são uma reminiscência do estilo arquitetônico aquemênida, o arco principal entre as torres, representa o Arco Kasra do período sassânida. O arco superior, que é um arco ogival, é inspirado pela era pós-islâmica e demonstra a influência do Islã no Irã.Os padrões que preenchem o vão entre estes dois arcos, é tipicamente iraniano.
A Torre Azadi durante sua construção e o jovem arquiteto Hossein Amanat |
Uma das maiores inspirações do arquiteto Hossein Amanat também foi o design das cúpulas das mesquitas iranianas com sua variedade técnica e diversidade impressionante.
A geometria do edifício é uma geometria quadrada retangular que gira em seu pedestal, torna-se hexagonal e, finalmente, forma uma cúpula. que só pode ser vista de dentro da torre.
No interior da torre existem dois pisos, um por cima do arco do arco principal e outro por baixo da cúpula, que pode ser acessado por elevador. O piso superior foi concebido como uma exposição que combina elementos da tradição e do modernismo.
Na construção da torre foram usados materiais selecionados como ferro e placas de mármore branco extraídas das minas de Josheghan na província de Isfahan. Também foram usadas pedras de granito de Hamedan na construção das portas principais, e as pedras dos pisos foram extraídas da Mina de Pérola no Curdistão.
Hossein Amanat também usou como referência outros elementos da arquitetura iraniana, como os Badgir (torre de vento), o Chahartagh (estrutura com quatro arcos), os jardins persas, os bazares, as mesquitas e os azulejos iranianos para multiplicar a beleza deste monumento e para ajudar os turistas a compreender melhor a cultura e civilização iraniana.
Localização e dimensões
A Torre Azadi é uma das atrações turísticas mais famosas de Teerã, na Praça Azadi localizada no cruzamento de três rodovias e uma das principais ruas da cidade (Rodovia Shahid Lashgari a oeste, Rodovia Saeedi ao sul, Rodovia Jinnah ao norte e Rua Azadi). Devido à sua proximidade com o Aeroporto Internacional de Mehrabad, muitos turistas se deparam com este magnífico monumento assim que chegam à capital do Irã.
A área total da praça é de 78.000 metros quadrados e a torre foi construída como um portal, com a altura de cerca de 45 metros e a largura 64 metros. Ao redor do edifício, com inspiração no jardim de Pasárgada, aquedutos, fontes de água, e canteiros de flores coloridas adornam a praça e completam o conjunto da obra.
O que você vai ver na Torre Azadi
Atualmente, o complexo Azadi combina a torre e o museu subterrâneo. A exposição do museu consiste em cerca de 50 artefatos históricos, representando diferentes períodos da história do Irã. A Torre Azadi freqüentemente se torna um local de eventos sociais e culturais, como instalações multimídia, concertos e festivais.
Programe-se para uma hora de visita incluindo o museu para aprender mais sobre a história do Irã, passando pelas surpreendentes instalações multimídia high-tech e depois suba até o topo da torre para apreciar a vista de 360 graus da cidade de Teerã.
À noite, flashes de luzes coloridas tomam conta da fachada da torre, e a fonte de água também é iluminada criando um espetáculo visual.
Leia também: O dia em que eu visitei Teerã e a Torre Azadi
🚇 Onde fica: Torre Azadi, Praça Azadi, Distrito 10, Teerã (Entre as estações de metrô: Meydan-e Azadi e Ostad Moein). Horário de visitação: domingo à quinta, das 9h às 18h; sexta das 10 às 18h.
Contagem regressiva para o Nowruz
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💞 Este é um artigo inédito em língua portuguesa que você só encontra aqui no blog Chá-de-Lima da Pérsia. Se você também é fã da cultura do Irã e considera importante o nosso trabalho, saiba aqui como você pode apoiar o blog.
Festivais e celebrações na cultura persa
Salam amigos! Para entendermos melhor a cultura do Irã, devemos conhecer quais são os festivais e celebrações que fazem parte da vida do povo iraniano há milênios.
A maioria dos festivais na cultura iraniana, tem origem nos rituais da antiga religião zoroastriana, ou seja, eles eram observados antes da era islâmica no Irã. Atualmente, iranianos de diferentes crenças também celebram estes festivais como uma forma de manter viva a riqueza de sua cultura ancestral.
Para sabermos as datas em que são comemorados esses festivais da cultura persa, deve-se ter como base o calendário iraniano, um calendário solar utilizado no Irã desde 1925, no Afeganistão desde 1957 e em alguns países da Ásia Central e regiões do Curdistão. As celebrações islâmicas no Irã, seguem o calendário islâmico lunar, assim como os demais países islâmicos.
Vamos começar pela maior e mais importante celebração da cultura iraniana, que é Noruz, o Ano Novo persa e outras celebrações ligadas a ele:
Noruz: Ano Novo persa
O Ano Novo no calendário iraniano, cai no início da primavera no hemisfério norte (equinócio de primavera). Em persa, o ano novo é chamado de Noruz, que é a junção das palavras no, que significa "novo" e ruz, que significa dia. Então, para os iranianos, celebrar o ano novo é como começar um "novo dia" ou nova vida, pois a primavera traz a renovação da vida.
As comemorações do Noruz duram 12 dias, e como costume as famílias se reúnem, se visitam e trocam presentes. Há muitas outras tradições e rituais que fazem parte desta época, incluindo o khane tekani (faxina da casa um mês antes), compras de ano novo, preparar comidas típicas e a montagem da Haft Sin (mesa com espelho, velas, aquário com peixe, ovos coloridos e 7 itens simbólicos que começam com a letra persa /sin/ س simbolizando saúde, amor, prosperidade, etc).
No Noruz, também há personagens folclóricos que são representados por pessoas com trajes especiais ou bonecos que enfeitam as ruas, como o Haji Firuz (palhacinho de roupas vermelhas e rosto negro que canta, dança e toca tamborim), o Amu Noruz , velhinho de barbas brancas e roupas verdes que traz presentes para as crianças, que representa a chegada da primavera e a Naneh Sarma, a velhinha de tranças brancas, que representa o inverno (em diferentes tradições ela é a mãe ou esposa do Amu Noruz).
No Irã, o Noruz é um feriado nacional e também é comemorado em outros países como Afeganistão, Azerbaijão, Tadjiquistão e outros países da Ásia Central e é considerado um dos Patrimônios da Humanidade pela Unesco.
Sizdah Bedar: 13º dia do ano novo persa
Chahârshanbe Suri: última quarta-feira do ano
Outros festivais importantes da cultura persa, não são feriados, mas têm ligação com os ciclos da natureza e das estações do ano. Estes festivais são sagrados para a minoria religiosa de zoroastrianos que vive no Irã atual, mas também são celebrados por iranianos de outras crenças: