Anousheh Ansari: uma iraniana no espaço

21/02/2012

Anousheh Ansari a bordo da ISS em 2006.
Em  18 de setembro de 2006 a empresária iraniana  Anousheh Ansari subiu  à Estação Espacial Internacional (ISS) como a  primeira mulher turista espacial. No entanto a mídia americana tratou de abordar temas polêmicos, como a relutância da  astronauta mestiça em se apresentar como iraniana ou muçulmana. Porem nunca deram a ela a oportunidade de esclarecer isso, visto que a maioria dos jornais ou sites ao entrevistar Anousheh Ansari dedicaram suas conversas a assuntos profissionais e técnicos.
A seguir, uma entrevista exclusiva que o jornalista Kourosh Ziabari fez em 2008 com a primeira mulher iraniana a explorar o espaço e que perpetuou o nome do Irã na edição de 2007 do Guinness Book World Records. 

Kourosh Ziabari: Sra. Ansari! Dois anos se passaram desde sua viagem histórica para a estação espacial como a primeira mulher astronauta, mas os principais meios de comunicação tem focado em você, não só por ser mulher, mas também por ser uma muçulmana iraniana. Qual é a sua concepção de ser uma muçulmano nascida no Irã? Você tem problemas para anunciar isso publicamente?

Anousheh Ansari: Eu sempre anunciei minhas raízes persas e tenho muito orgulho disso. Sempre começo a minha história dizendo a todos que nasci no Irã e mostro o mapa do Irã com o meu local de nascimento, Mashhad. A minha raiz iraniana é uma grande parte de quem eu sou da mesma maneira que a vida na América me moldou. Sempre fui uma pessoa espiritual e minhas crenças foram reforçados durante minha viagem ao espaço. Quando você vê a Terra do espaço e entende o quão pequeno e frágil é se comparado ao universo sombrio que o rodeia, isso te dá uma nova perspectiva sobre a vida e quão pequeno e insignificante que somos e quão tolo é lutar por coisas que não são mais do que um grão de poeira neste grande sistema. Além disso, eu também trouxe comigo uma cópia do Sagrado Alcorão para a estação espacial, o que foi uma decisão pessoal, sem qualquer motivação política. Também carrego comigo orações feitas por meus pais e amigos. Também tenho que acrescentar algumas coisas sobre a precisão do título que me deram e que muitos jornais e canais de TV transmitem erroneamente. Eu fui considerada a primeira mulher a viajar ao espaço como turista, não a primeira astronauta do sexo feminino.O nome da primeira mulher cosmonauta era Valentina Terishkova. O Guinness Book of World Records tem registrado o meu nome como a primeira mulher turista espacial assim como a primeira iraniana no espaço.


K.Z.: Muitos de seus fãs e seguidores lembram que você tinha começado a carreira de blogueira poucos meses antes de iniciar a missão espacial. Seu blog foi ganhando espaço em todo o mundo e uma popularidade sem precedentes, mas parou de ser atualizado de repente. O que aconteceu naquela época?


A.A: Eu comecei a blogar, porque eu queria partilhar a minha experiência com o maior número de pessoas possível e eu fiquei muito feliz de ver como o blog era bem recebido. No entanto escrever algo de importância, requer um nível de dedicação. Estou muito envolvida com a minha nova empresa, os meus projetos educacionais e meus negócios, tenho muito pouco tempo para o blog. Eu gostava de blogar e de ler os comentários que as pessoas escreviam para mim, daí eu continuei a receber muitas mensagens, e não tenho a possibilidade de ler e responder a cada mensagem que recebo, mas tento me manter com elas.


K.Z: No início, quando o cronograma de sua empresa afiliada para o programa espacial foi anunciado, você não esperava ser a astronauta escolhida para concorrer à missão. Mas depois que seu colega japonês não foi aprovado nos exames médicos e práticos, você foi substituída imediatamente, o que deve ter sido uma notícia chocante para o Sr. Enomoto apesar de ter sido um acontecimento inacreditável e excitante para você. Estou certo sobre isso?


A.A: Assim que eu descobri, liguei para ele para ver como estava. E como você mencionou, eu estava muito excitada com a perspectiva de ser capaz de voar no espaço, mas por outro lado me senti desconfortável pois tinha me tornado amiga do Sr. Enomoto durante nosso treinamento juntos e eu sabia o quanto ele queria ir. Quando falei com ele, naturalmente ele estava desapontado, mas ele estava determinado a cuidar de seu problema médico e tentar de novamente no futuro. Perguntei se eu poderia fazer algo por ele e ele me deu alguns de seus itens pessoais para levar a ISS comigo, e foi o que eu fiz.


K.Z.: Uma vez que a notícia de sua viagem espacial saiu na mídia, muitos críticos e jornalistas em todo o mundo afirmram que 20 milhões de dólares é muito para ser gasto para um interesse pessoal e que poderia ser perfeitamente utilizado para fins de caridade ou de educação. Você concorda com eles? 


A.A.:Acredito que cada pessoa tem direito à sua opinião. Minha família e eu trabalhamos duro e fizemos muitos sacrifícios para conseguir o dinheiro e a decisão sobre como gastá-lo deve ser só nossa. Eu apoio causas que são importantes para mim e minha família do jeito que eu acredito que é o certo. Ao mesmo tempo eu sinto que a minha viagem inspirou muitas pessoas ao redor do mundo a perseguirem seus sonhos. Ter esperança e inspiração é um dom inestimável e eu tive a sorte de ter sido capaz de desempenhar o pequeno papel de dar um vislumbre de esperança e inspiração para muitos.


K.Z: A última pergunta, quero saber se você tem alguma idéia ou sugestão para as comunidades científicas e pesquisadores do Irã para aumentar seus conhecimentos e conquistar seu lugar no mundo? 


A.A: Acredito que os iranianos são muito inteligentes e têm grande potencial, quando têm as oportunidades certas. Isso é claro, com base em suas realizações em suas novas pátrias em todo o mundo. Infelizmente as oportunidades são limitadas dentro do Irã por causa de guerras, sanções e outras questões, o país não é considerado uma maravilha de modernidade. Acredito que se o Irã se juntasse a economia global e tivesse as oportunidades certas, poderia avançar e competir com os países desenvolvidos, com uma defasagem de alguns anos.

Baseado no artigo de Kourosh Ziabari para o site Mideast Youth.

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