Mowlana Jalaluddin Rumi

20/05/2012

Rumi (pintura de Hossein Behzad)

Mowlānā Jalāluddīn Mohammad Rūmī  (1207-1273),  ou  simplesmente Rumi ou Mowlana (ou Molavi como é mais conhecido no Irã), nasceu na parte oriental do antigo Império Persa, perto de Balkh (atual Tadjiquistão). 

Seu primeiro nome significa literalmente "Majestade da Religião", Jalal significa majestade e Din significa religião, Rumi é também, um nome descritivo cujo significado é "o romano", pois ele viveu grande parte da sua vida na Anatólia, que era parte do Império Bizantino dois séculos antes. Por causa da ameaça de invasão mongol na Pérsia, Rumi mudou-se para Konya na Turquia onde estabeleceu-se até a morte e onde até hoje seu túmulo é considerado um local de peregrinação. 

Brilhante teólogo, poeta e místico fufi, Rumi passou por uma transformação espiritual em 1244, após o encontro com Shams de Tabriz e aos 38 anos de idade iniciou a sua obra-prima o Masnavi, que consiste em 24.000 versos. Sua outra obra famosa é o Divan e-Shams-e Tabriz (uma coletânea dos poemas  de Shams de Tabriz). O famoso livro Fihi ma fihi, ("Que contém o que há nele") é uma coletânea de setenta e uma palestras de Rumi compilada a partir das anotações de vários de seus discípulos. A poesia de Rumi tem uma conotação mística, que transmite  uma linguagem universal da alma humana, por isso a ele é atribuído o título de  Mowlana que significa " nosso mestre".

“Vem, vem, seja você quem for, 
Não importa se você é um infiel, um idólatra, 
Ou um adorador do fogo, 
Vem, nossa irmandade não é um lugar de desespero, 
Vem, mesmo tendo violado seu juramento cem vezes, 
Vem assim mesmo.”

 ( Jalaluddin Rumi, Masnavi)

Um dos  instrumentos musicais  favoritos de Rumi  era o ney (a flauta de bambu). Os poemas persas podem ser cantados ou lidos e segundo Rumi, a música pode ser também uma forma de zikr, isto é, a lembrança que "não há outro Deus, além do Deus único", que em árabe é dito como La illaha illa Allah

 Após a morte de Rumi, seus seguidores fundaram a Ordem Dervish Mevlevi, também conhecida como os "dervixes rodopiantes". A ordem Mevlevi encontra-se em Konya na Turquia e têm um grupo de músicos e dançarinos sufis que executam sua famosa dança ritual sama em todo o mundo.


Dervixes Mevlevi (página de um manuscrito persa)


Vem,
Te direi em segredo
Aonde leva esta dança

Vê como as partículas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteados.

Cada átomo
Feliz ou miserável,
Gira apaixonado
Em torno do sol.

Ninguém fala para si mesmo em voz alta.
Já que todos somos um,
falemos desse outro modo.

Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma
Fechemos pois a boca e conversemos através da alma
Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo.

Vem, se te interessas, posso mostrar-te.
Desde que chegaste ao mundo do ser,
uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses.
Primeiro, foste mineral;
depois, te tornaste planta,
e mais tarde, animal.
Como pode isto ser segredo para ti?

Finalmente, foste feito homem,
com conhecimento, razão e fé.
Contempla teu corpo - um punhado de pó -
vê quão perfeito se tornou!

Quando tiveres cumprido tua jornada,
decerto hás de regressar como anjo;
depois disso, terás terminado de vez com a terra,
e tua estação há de ser o céu.

Não durmas,
senta com teus pares

A escuridão oculta a água da vida.
Não te apresses, vasculha o escuro.
Os viajantes noturnos estão plenos de luz;
não te afastes pois da companhia de teus pares.

Faltam-te pés para viajar?
Viaja  para dentro de ti mesmo,
e reflete, como a mina de rubis,
os raios de sol para fora de ti.

A viagem conduzirá a teu ser,
transmutará teu pó em ouro puro.

Sofreste em excesso
por tua ignorância,
carregaste teus trapos
para um lado e para outro,
agora fica aqui.

Na verdade, somos uma só alma, tu e eu.
Nos mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti.
Eis aqui o sentido profundo de minha relação contigo,
Porque não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu.

Oh, dia, levanta! Os átomos dançam,
As almas, loucas de êxtase dançam.
A abóbada celeste, por causa deste Ser, dança,
Ao ouvido te direi aonde a leva esta dança.

(Jalal Ud-Din Rumi)

Apesar de estar intimamente associado à tradição islâmica, a espiritualidade de Rumi sempre esteve voltada para a busca por "uma verdade" que transcende os limites entre as religiões. Seus ensinamentos filosóficos convidam a uma existência pacífica e tolerante entre todos os seres e são dirigidos a todas as pessoas, seja qual forem as crenças, que almejam encontrar respostas para as questões da vida.

2 comentários:

  1. A poesia de Rumi, sempre um bálsamo para a alma! Parabéns pelo post!

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  2. Sou apaixonada pelas poesias de Rumi, eu gostaria muito de conhecer músicas cantadas desse poeta. Muito obrigada por divulgar tanta beleza.

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